

A quaresma é um tempo de reflexão sobre o sofrimento de Jesus e, consequentemente, dos nossos irmãos que sofrem até hoje. É nesse sentido, de fazer memória ao sofrimento de Jesus que, especialmente durante a Quaresma, fazemos jejum e reforçamos o exercício da caridade e da oração. Para nos ajudar a percorrer esse caminho, a CNBB todos os anos nos lança um desafio, a partir da Campanha da Fraternidade. Neste ano de 2018, somos chamados a refletir sobre a questão da violência e como superá-la em nossa sociedade.
Jesus viveu em um tempo em que a violência era regra. O império romano buscava meios para se sustentar e ampliar seus domínios e, para isso, perseguia os mais pobres; para lhes tirar quase tudo do pouco que as pessoas ainda possuíam. Caso as famílias não tivessem como pagar, era grande a possibilidade dessa dívida resultar em violência e até mesmo a morte.
Na época, havia um entendimento natural de que os pobres, doentes, e trabalhadores deveriam ser rejeitados pela sociedade em geral. Os humildes constantemente tinham violados os seus direitos como pessoa humana. Até mesmo o exercício da cidadania era um problema, pois só podiam participar plenamente daquela sociedade poucas pessoas, geralmente vindas de famílias ricas e importantes.
Jesus veio exatamente para aqueles que não tinham lugar na sociedade. Num ambiente de forte exclusão social, as palavras do Evangelho serviram como alento e, por isso, os atos de Jesus até hoje podem ser considerados revolucionários, pois abalaram as tradições da época. Jesus trouxe desconforto às estruturas de poder, o que despertou a atenção da classe dominante na época.
Dois mil anos depois, a violência em nossa sociedade ainda é uma questão delicada. Hoje temos esses direitos garantidos pela Constituição Federal e por acordos internacionais, tais como a Declaração dos Direitos Humanos. Entretanto, no Brasil houve 55 mil mortes violentas somente em 2013. Já em 2016, esse número subiu para 61 mil, o que demonstra um crescimento do problema.
Outro aspecto a ser considerado é que a violência, principalmente contra as mulheres, vem sendo banalizada pela mídia e reproduzida em programas de TV e novelas. Para os jovens de muitas escolas, a violência já é uma forma normal de se resolver conflitos.
Para pensar em eliminar a violência, o primeiro passo seria educar todas as crianças em lares amorosos, saudáveis e com pais dedicados. Mas por que isso não ocorre? Porque há uma desigualdade gigantesca. As crianças que nascem em regiões violentas, tendem a reproduzir as influências que recebem. O Brasil, por exemplo, é um país riquíssimo, porém a grande parte da riqueza nacional fica concentrada na mão de poucos. Assim, a desigualdade seria então a grande mãe de todas as violências.
As guerras são a forma mais destrutiva de se produzir violência. Uma vez que pessoas de uma determinada nação são convencidas da existência de um inimigo em outra, passam a ser incentivadas a lutar contra esse “mal”. Na verdade, se trata tão somente da incessante busca pela ampliação de poder e riquezas naturais, especialmente o petróleo. Entre 2003 e 2010, cerca de 4.400 jovens soldados norte-americanos morreram na Guerra do Iraque, num total de 32 mil feridos, sendo todas essas mortes provocadas pela disputa petrolífera no Oriente Médio.
Mas o que podemos fazer contra tanta violência? Em longo prazo, a violência se resolve na prática do amor. Temos de colocar em prática os ensinamentos de Jesus: “Amem-se uns aos outros como eu vos amei” (João 15, 12). Porém não devemos somente ler e reproduzir esta bonita frase, mas colocá-la em prática no nosso dia-a-dia. Em um mundo onde há intensa exaltação do individualismo, somos ensinados a abandonar o próximo.
Diante disso, devemos tomar Jesus como modelo de vida e tentar melhorar constantemente o nosso relacionamento com o próximo, para que possamos ser semeadores da paz para o mundo, ser amorosos com nossos filhos, familiares e, principalmente, com as pessoas mais humildes. Devemos ter em mente que, se procurarmos viver o Evangelho e praticar ações que possam melhorar a vida dos outros, não haverá espaço para a violência.
“Acima de tudo, porém, revistam-se do amor, que é o elo perfeito.
Que a paz de Cristo seja o juiz em seu coração,
visto que vocês foram chamados para viver em paz,
como membros de um só corpo”. (Col 3, 15)
Luciana Gianesini e Mauro Sergio – PASCOM